O FILHO SAUDÁVEL DO PATRIARCADO

 Os estupradores são filhos saudáveis do patriarcado, prova disso é a grande impunidade para aqueles que praticam esse ato que fere nossa dignidade enquanto seres humanos. O estupro fere nosso corpo físico e nossa alma, uma vez que a autonomia sobre aquilo que é nosso, nos é retirada! A sensação de impotência impera não apenas no ser de cada mulher que sofre com esse tipo de violência, a ética política que deve pairar sobre nós, faz com que a sensação de desproteção e injustiça acabe com nossa paz. Mariana Ferrer é um verdadeiro símbolo de como o patriarcado pode acabar com nossa vida, e é sobre isso que vou falar.

No último dia 07, o Tribunal de Justiça de Santa Catarina (TJSC) decidiu por unanimidade, manter a absolvição de André de Camargo Aranha, empresário acusado de estuprar Mariana Ferreira, conhecida como “Mari Ferrer”. Para quem não conhece o caso, vou fazer um breve resumo: O crime ocorreu no dia 15 de dezembro de 2018, no Café de La Music, na cidade de Florianópolis. Mariana Tinha 21 anos de idade e trabalhava como influenciadora e embaixadora desse estabelecimento. No fatídico dia do crime ela estava trabalhando (fazendo presença VIP e publicidade no Café de La Music), acompanhada de “4 amigas e 1 amigo”. Segundo o relato da própria Mariana, uma de suas amigas a “arrastou” para um dos bangalôs que havia no local para tirarem fotos (como prova disso, Mari postou essas fotos na internet pouco tempo antes do crime acontecer). Os bangalôs eram áreas exclusivas dos sócios, ou seja, dos homens com muita grana... nesse intervalo entre fotos e conversa com a amiga, Mari teve uma “amnésia temporária”, ou seja, em um determinado momento o seu cérebro sofreu um “apagão”, e o que nós sabemos é o que foi possível ver com a divulgação de materiais e vídeos, Mari subindo as escadas de um local privativo com André Aranha e voltando atordoada e sozinha depois... Logo após o crime, ela tentou pedir ajuda para as amigas, mas ficou desamparada e sozinha após ser violada. O caso veio à público através da denúncia feita por ela mesma nas redes sociais, Mari divulgou fotos de sua calcinha ensanguentada, áudios mandados para sua mãe e amigas pedindo ajuda (recomendo que não escutem). O caso tomou proporções gigantescas e a hashtag #JustiçapoMariFerrer tornou-se um dos assuntos mais comentados do Twitter. Mariana havia sido dopada e estuprada enquanto trabalhava em um estabelecimento que deveria lhe oferecer segurança. Uma jovem de 21 anos, virgem, teria os seus dias de paz contados e seu sofrimento julgado pela sociedade que culpabiliza uma vítima de estupro. 

Como disse acima, o crime ocorreu em 2018 e desde então, Mariana não teve paz na luta por justiça, isso mesmo, aquela justiça feita pelos homens e para os homens, principalmente os ricos e poderosos como André Aranha.  Segundo o artigo 11º da Declaração dos Direitos Humanos: “todos são inocentes até que se prove o contrário”, então o acusado tratou logo sua defesa: “sou inocente, nunca tive contato com essa moça”, bom... as provas diriam o contrário”, os exames comprovaram a ruptura do hímen da vítima e foram encontrados vestígios de sêmen do acusado nas roupas íntimas de Mariana, além dos vídeos que mostram que André Aranha “conduzia” Mari para uma área privativa. Mesmo com o excesso de provas, a palavra de Mariana era invalidada pela justiça e pela sociedade... além da dor física, Mariana carrega a dor da injustiça, aliás, todas nós carregamos! O dia 7 de outubro por fim veio decretar mais uma vitória do patriarcado, a vitória da cultura da culpabilização da vítima, o acusado André Aranha, foi absolvido em segunda instância! De acordo com o juiz, “não havia provas o suficiente para culpá-lo de estupro de vulnerável”, então o vídeo, as mensagens, os laudos, as fotos ensanguentadas das roupas íntimas, não foram o suficiente para a justiça brasileira entender que um homem branco, rico privilegiado poderia ser um estuprador.

Mari não busca fama (como muitos afirmaram), fazer grandes entrevistas para meios midiáticos ou ganhar dinheiro com isso, ela busca justiça e paz, já que sua dignidade foi roubada... “Recentemente ela divulgou imagens de laudos médicos em seu perfil no Instagram. Nos documentos, constam diagnósticos de estresse pós traumático, tensão, ansiedade, fobia social, síndrome do pânico e transtorno depressivo recorrente após o episódio de violência sexual que teria sofrido. Um dos laudos aponta que Mariana está em acompanhamento psicoterapêutico desde 2019 e apresenta, desde sempre, "forte crise nervosa e sensação de que tinha alguém a perseguindo". O documento diz ainda que "foi possível constatar que se trata de uma pessoa que atualmente apresenta medo, inabilidades de conviver com pessoas que não sejam pessoas de seu convívio familiar, ansiosa, além de quadro depressivo moderado e de transtorno de pânico"(Fonte: MarieClaire). 

O caso Mariana Ferrer é apenas 1 entre os milhares de casos de violência sexual impunes no Brasil. Em uma reportagem de 2017 do jornal Metropoles, foi divulgado que cerca de 99% dos crimes de estupro ficam impunes no Brasil, além da justiça que se faz de cega perante aos problemas de gênero, mulheres tem medo da denúncia e da culpabilização!

O que podemos tirar de casos como o de Mariana?

O mais importante de tudo é entender que a luta contra as violências patriarcais deve ser uma luta de todos, sendo, portanto, um dos principais focos da luta feminista, segundo a genial bell hooks, essa deve ser uma preocupação primária, o nosso foco principal, afinal de contas, como podemos viver bem socialmente com o medo constante desse tipo de problema? A violência deve ser inaceitável! Precisamos nos revoltar, mesmo que nas redes socias. Segundo ponto importante: estuprador não tem perfil! Pode ser qualquer pessoa, inclusive um homem branco e rico como André Aranha, homens desse tipo, acham que podem dominar qualquer mulher com o poder aquisitivo que têm! Esses são da pior espécie, cometem as maiores barbaridades e permanecem impunes com o aval da justiça patriarcal e misógina. O terceiro e último ponto que quero expor é que enquanto o patriarcado existir, sofreremos as mesmas violências que Mari sofreu, seremos culpabilizadas por estupros, agressões, importunação sexual, assédio... uma gama de opressão sexista e misógina que, infelizmente, estamos sujeitas a sofrer por carregarmos o signo “ser mulher”.

As angústias e dores que Mariana Ferreira está sofrendo, pode ser a sua amanhã, hoje, somos apenas mais um número para a estatística patriarcal capitalista! há apenas um novo projeto político de sociedade que poderá nos salvar, e ele tem um nome que se chama feminismo! preciso me dar o direito de sonhar com isso todos os dias... enquanto isso, como disse Márcia Tiburi, no patriarcado, o nosso destino é a violência.

O feminismo é a ideia revolucionária de um projeto político que visa a emancipação feminina, e que luta contra a violência por uma sociedade equitativa para todos, com o fim do patriarcado.

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Precisamos de Justiça.

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Texto: Luana

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Foto tirada na cidade de Teresina-PI, protesto realizado em repúdio à absolvição do acusado de estuprar Mari Ferrer.




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