A SUBSTÂNCIA
Ontem fui tomada pela curiosidade e resolvi assistir um dos filmes mais comentados deste ano: A Substância”. O filme é estrelado por Demi Moore e Margaret Quallet, ambas interpretam a mesma personagem, apesar dos nomes diferentes dado a elas (vocês entenderão mais adiante)! A trama central do filme gira em torno de Elizabeth (Demi Moore), uma mulher de meia idade que começa a ser pressionada por estar “velha demais para o seu trabalho”, já que ela apresenta um programa de aeróbica e o seu corpo não corresponde as expectativas de “corpo ideal” do seu produtor.
A partir disso, imaginem uma mulher
de meia idade que passou a vida inteira sob os holofotes, com uma carreira
bem-sucedida, elogiada por sua beleza e o seu corpo magnífico, ser descartada e
demitida sem consideração alguma por seguir o ciclo natural da vida, só não é chocante
porque acontece na realidade...
Após ficar deprimida com essa situação, acontece alguma coisa com Elizabeth (me perdoem, mas não lembro o que aconteceu com a querida) ela vai para o hospital, e lá ela conhece um jovem enfermeiro que coloca em seu casaco a tal “Substância”, com um bilhete dizendo: “isso mudou a minha vida” ... eu confesso que no começo do filme eu achei que ia ser uma militância sem fim, pensei que ia ser mais um filme clichê onde a mulher sucumbida pelos anseios da sociedade tenta mudar sua história e blá blá blá... Porém, quando a personagem principal aceita ativar “A substância”, eu fui entender o porquê deste filme ser tão comentado e ter virado alvo de memes na internet.
Após alguns minutos de sofrimento,
sai de dentro dela sua nova versão, uma versão mais bonita, jovem, cheia de
vitalidade, enquanto a outra está inerte no chão, aparentemente sem vida... ao
ver sua nova forma no espelho, o encantamento é instantâneo! As curvas, as
mamas durinhas, a barriga chapada e sem estrias foi alvo de orgulho, até para
quem assistiu...
Ao ver sua antiga versão no chão,
ela lembrou das recomendações e tentou seguir passo a passo as ordens da “Substância”,
afinal de contas, as duas eram a mesma pessoa, então ela precisava cuidar da “matriz”,
alimentando-a e trocando de versão a cada 7 dias. Pelo menos esse era o
plano...
Sue seria sua “nova versão”, sendo
assim, ela não perdeu tempo em pegar o seu trabalho de volta, e pertencer aos holofotes
de novo, saboreando a vida novamente e desfrutando de tudo que a sua beleza lhe
proporcionaria...
Entretanto, conforme os meses iam
passando, a fama foi ganhando mais espaço na mente de sua nova versão, e o
esquema da “troca de eus” (vou chamar assim rs) começou a falhar graças à
ambição de Sue... A cada falha, anos de vida eram tirados do corpo matriz e o
mesmo envelheceria bem mais depressa! Resumindo, a situação ficou tão fora de
controle que Elizabeth envelheceu o dobro do seu tempo, se antes ela era uma
mulher de 50 anos maravilhosa, a cada troca desrespeitada ela parecia ter
100...
Quando o líquido fez efeito o copo
da bela Sue começou a sofrer intensas mutações, dentes na barriga olho atras da
cabeça, conglomerados de veias e massas de tecido se misturavam para fazer uma nova
pessoa sem sucesso, era uma junção de órgãos mal colocados, um corpo
perfeitamente deformado e pronto para o seu programa de estreia. Conclusão, a
busca do ideal foi assumida de forma tão frenética que a dissociação entre o
corpo e a mente foi fatal. Não sobrou Elizabeth e nem Sue, o que ficou foi uma
montanha de sangue e vísceras espalhadas pela calçada da fama, que um dia a
personagem tanto brilhou.
Eu acho que consegui resumir de
maneira bem chinfrim essa produção rs, digo que fiquei surpreendida com a forma
da produtora em mostrar os danos desse padrão social imposto, principalmente, para nós mulheres. Nunca imaginei uma mulher belíssima virar um monstrengo para alertar
os perigos da pressão estética. Agora preciso militar um pouquinho e trazer um
pouco sobre o que Naomi Wolf escreveu em seu belíssimo livro “O mito da beleza”.
Naomi pontua em seu livro que os
padrões de beleza imposto a nós são os meios mais cruéis e rígidos para que o
patriarcado consiga métodos para nos controlar. Além disso a autoaceitação não
é um discurso bem aceito nos atuais moldes da sociedade capitalista, pois não
gera lucros para a indústria da beleza e para os numerosos cirurgiões plásticos.
Então os meios de comunicação atuam ativamente na mente da sociedade para fortalecer
uma fixação cultural de um ideal inalcançável, mesmo que sutil.
Voltando ao filme, preciso pontuar
uma coisa que achei interessante, o fato de ter longos corredores nas cenas,
para quem assistiu viu um grande corredor no local de trabalho da personagem e
também na casa dela, acredito que os corredores simulam labirintos, onde
Elizabeth e Sue estão presas e só conseguem sair depois de mortas. Pelo menos
foi isso que minha cabeça de vento interpretou!
Bom, se você não desistiu no meio da
leitura e chegou até aqui, faço o convite para lerem o Livro “O mito da beleza”
da Naomi Wolf e assistirem o filme “A Substância” (só não assistam comendo).
.
- Da forma pela qual a beleza e o trabalho as recompensam e as castigam, as mulheres jamais chegam a esperar pela coerência, mas pode-se contar que não pararão de tentar.
-Naomi Wolf







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