FLORBELA ESPANCA
EU
Eu
sou a que no mundo anda perdida,
Eu sou a que na vida não tem
norte,
Sou a irmã do Sonho, e desta
sorte
Sou a crucificada … a dolorida …
Sombra de névoa tênue e
esvaecida,
E que o destino amargo, triste e
forte,
Impele brutalmente para a morte!
Alma de luto sempre
incompreendida!…
Sou aquela que passa e ninguém
vê…
Sou a que chamam triste sem o
ser…
Sou a que chora sem saber porquê…
Sou talvez a visão que alguém
sonhou,
Alguém que veio ao mundo pra me
ver,
E que nunca na vida me encontrou!
Florbela
Espanca é a poetisa Portuguesa que adorava desaparecer de si.
Se Frida Kahlo carregava todas as
chagas do mundo, Florbela Espanca com certeza carregava todas as frustrações do
mundo, pelo menos é assim que eu a vejo. Apesar de ter sido uma mulher além de
seu tempo, ela não conseguiu resistir a dor de carregar a própria existência. Se
a angústia tivesse outro nome, com certeza seria Florbela Espanca.
Posso dizer que essa mulher tem um
espaço especial na minha vida. Espero que vocês possam apreciá-la também.
Florbela Espanca é Florbela D’Alma
Conceição Espanca. Nasceu no dia 8 de dezembro de 1894 em Vila Viçosa,
Portugal, filha de João Maria Espanca e Antónia Conceição Lobo. Nasceu fruto de
um relacionamento extraconjugal de seu pai, com o consentimento da esposa já
que esta não podia ter filhos, apesar disso, Florbela teve durante toda a sua
vida o amor de seu pai, tendo como madrinha a esposa de João.
A relação de Florbela com a escrita
começou prematuramente aos 8 anos de idade. É um tanto curioso saber que uma
menina de 8 anos já sentia as dores da vida com uma intensidade absurda, segundo
a própria, as
coisas da vida lhe davam vontade de chorar e lhe tiravam o sono. O poema
“A Vida e a Morte” e o soneto “A bondade, o som de Deus…” são os seus primeiros
trabalhos conhecidos, reflexo da intensidade e angústia que haviam de marcar a
sua curta vida.
Florbela foi uma das primeiras mulheres de Portugal a
frequentar uma escola. Foi aluna da escola primária na sua cidade natal, e uma
das primeiras alunas do Liceu Nacional de Évora com apenas 11 anos de idade.
Não era comum as meninas estudarem tanto, mas Florbela sempre ambicionou coisas
maiores. Durante seus estudos no Liceu, entrou em contato com as obras de
diversos escritores renomados na época, como Balzac e Camilo Castelo Branco. O
seu gosto pela leitura influenciaria na escolha do seu curso superior.
A linha cronológica da vida de Florbela me leva para seu
primeiro casamento, o primeiro dos 3 que fracassariam. Peço licença para pular
essa parte, falar sobre casamentos é enfadonho e tenho certeza que ela me
perdoaria por isso, afinal ela descrevia o casamento como algo “brutal e que somente as mulheres mais animais que espirituais não se
desiludiam para sempre num casamento”. O casamento é revoltante para Florbela e
para qualquer mulher oprimida por essa instituição...
Voltando para sua vida artística, em
1916, a
poetisa reuniu uma seleção da sua produção poética desde 1915, inaugurando assim o projeto Trocando Olhares, em uma
época hostil para mulheres, está implícito o fracasso da promoção dessas produções. Em 1919, saiu a sua primeira obra, Livro de Mágoas, um livro de sonetos, que foi uma trabalho
bem sucedido, esgotando os exemplares em pouco tempo! Enquanto tentava emplacar
sua carreira como escritora, ela trabalhou como jornalista e professora de
português para sobreviver. Em 1923, lançou a sua segunda coletânea de sonetos, Livro de Sorór Saudade edição paga por João, seu pai.
Entre uma frustração e outra, a perda da mãe, os conflitos amorosos e a falta de aceitação pelos círculos literários mais exigentes ditaram muita da mágoa que pautou a vida da autora. No entanto, foi a morte do irmão, Apeles Espanca, que lançou Florbela para o abismo. Este momento infeliz inspirou-a a escrever o livro As máscaras do Destino.
Florbela Espanca, intensa, irreverente, não ligava para os
padrões sociais da época, considerada uma autora multifacetada, escreveu poesia,
contos, um diário e epístolas; traduziu vários romances e colaborou ao longo da
sua vida em revistas e jornais, sofreu decepções... dedicou seus últimos
dias fazendo aquilo que amava...
Aos 36 anos, no dia do seu aniversário, resolveu desaparecer
de si. Em busca do seu próprio mundo, longe das superficialidades terrenas.
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Fontes: https://revistacult.uol.com.br/home/florbela-espanca-um-amar-perdidamente/
http://www.leffa.pro.br/tela4/Textos/Textos/Anais/SENALE_IV/IV_SENALE/Eliege_Marques.htm
http://www.revistaestante.fnac.pt/florbela-espanca-tragica-escritora-poemas-de-amor/
Em memória de Florbela Espanca. Escritora. Feminista e Professora.

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