ESCOLHAS POLÍTICAS - MULHERES NA LUTA CONTRA A DITADURA MILITAR

 “Ao ingressarem para as lutas da oposição política, das mais diversas maneiras, as mulheres pegaram em armas ou apoiaram ações políticas de protesto, armadas ou não, mantiveram a segurança de "aparelhos" que escondiam a militância e o material de luta, participaram da imprensa clandestina, escreveram, fizeram funcionar as gráficas e distribuíram as publicações produzidas de forma artesanal e em condições muito precárias. Cuidaram da saúde e da segurança de militantes e familiares. Tiveram suas crianças na clandestinidade, nas prisões. Viram suas crianças expostas às sessões de tortura, ameaçadas ou mesmo torturadas. Sofreram abortos dolorosos devidos aos espancamentos e chutes dos torturadores. Foram impedidas de amamentar seus bebês nos cárceres, menstruaram de forma excessiva ou escassa, conforme as sessões de torturas. Foram estupradas e sofreram violência sexual. Tiveram seus corpos nus expostos para os torturadores espancá-los, queimá-los com pontas de cigarro ou com choques elétricos” - Comissão Nacional da Verdade

Dia 31 de março, dia da vergonha nacional. Dia para ser lembrado, para que ele jamais se repita! O golpe militar de 64 feriu a dignidade do povo brasileiro. Fomos traídos! A pátria brasileira foi humilhada durante 21 anos! Cidadãos tiveram seus direitos retirados, pessoas foram perseguidas politicamente, presas, torturadas e mortas nos porões da ditadura! Ainda há quem comemore! Afinal de contas, a cadela do fascismo e da intolerância está sempre no cio.

Não poderia deixar esse dia passar batido, sem lembrar das mulheres que lutaram bravamente contra esse regime opressor! Algumas ainda estão vivas, e lembram das perseguições sofridas. Outra virou Presidenta. Outras jamais foram encontradas. Precisamos relembrá-las e honrá-las! Tirar essas mulheres do mar do esquecimento é o nosso papel. A repressão não poupou as mulheres.

ELAS também tiveram o seu protagonismo na luta, pegaram em armas, foram para o campo, compor a Guerrilha do Araguaia, participaram da luta urbana e viraram lendas! Só na Guerrilha do Araguaia, 18 mulheres participaram do levante armado! Encararam as adversidades da vida no campo, abdicaram de suas vidas normais para lutar em prol da causa: a libertação do país contra o imperialismo estadunidense e capitalismo. Elas também foram presas, torturadas das formas mais humilhantes possíveis, as que sobreviveram podem afirmar: lugar de mulher, também é na revolução armada!  Em uma de suas entrevistas, a ex-guerrilheira Criméia Almeida disse: “A repressão considerava as mulheres como frágeis. Mas mostramos que tivemos muito mais coragem do que os homens para lutar cara a cara, olho no olho...Os interrogatórios eram feitos com a gente nua, na hora que é torturada, você só pensa em morrer. E eles lembram que não é para isso acontecer.” Para quem não conhece a história de Criméia, ela foi capturada pelo exército quando estava tentando sair da região do Araguaia, ela estava grávida e teve que deixar a guerrilha! foi presa, e mesmo grávida, foi torturada! seu filho nasceu no hospital das forças armadas, os oficiais a torturavam psicologicamente dizendo que eles entregariam o filho para a adoção.

Também jamais me permitirei esquecer da lendária Dina, a única mulher vice comandante das forças guerrilheiras, ela ficou conhecida pela sua capacidade de sempre escapar dos confrontos diretos contra os soldados. Os moradores da região acreditavam que ela se transformava em uma borboleta... Eles diziam: “ela era invencível, pois, se ferida, desaparecia transformando-se em borboleta”. Na época, foi oferecida uma recompensa para quem capturasse Dina. Até hoje, alguns moradores acreditam que ela não morreu, virou uma borboleta, e ronda pelo Araguaia. Uma visão romântica de uma mulher que foi fuzilada e enterrada em uma vala comum. O corpo de Dina jamais foi encontrado, ela é considerada desaparecida política.

Na ditadura, a perseguição não escolhia o gênero, mas subestimava a capacidade das mulheres em lutar pelas suas convicções políticas, o patriarcado estava solidificado na ideologia ditatorial opressora, e como de praxe, elas provaram que poderiam fazer a diferença, seja pegando em armas, ou distribuindo panfletos. Essas mulheres emanavam o desejo pela revolução, pela liberdade de pensamento, enfrentaram o machismo em prol dos seus ideais. Hoje podemos olhar para o passado, e dizer: Sim, somos capazes de fazer qualquer coisa, realizar qualquer feito, de maneira primorosa, tão bem quanto qualquer homem.

O protagonismo feminino na história do Brasil não deve ser negado. As mulheres que vieram antes de nós, foram a antítese do papel tradicional da mulher! Lutaram contra a ditadura, o sexismo, o machismo e ainda prepararam o terreno, para que nós pudéssemos falar abertamente sobre nossas convicções políticas sem ter medo. Eu desejo que o espírito revolucionário que habitou em cada uma dessas mulheres, nos inspirem a seguir quebrando as correntes que nos oprimem.

Ditadura Nunca Mais!

Texto: Luana


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