O LADO INVISÍVEL

 “Uma boa razão para a desigualdade entre homens e mulheres é que as mulheres trabalham em proporção muito maior com cuidados “- Katrine Marçal

Segundo dados lançados no site do ibge.gov.br, em média, mulheres dedicam 10,4 horas por semana a mais que os homens aos afazeres domésticos ou ao cuidado de pessoas. Fato justificável em uma sociedade capitalista, que subalterniza o trabalho doméstico, aliado ao patriarcado que coloca as atividades de cuidado sob responsabilidade das mulheres, como forma de domesticá-las no lar, como se o cuidado fosse algo inerente ao sexo feminino!

Ao passo que o movimento feminista luta pela independência financeira das mulheres, temos que questionar a dupla opressão imposta quando nos libertamos da dependência do capital de alguém. Quando decidimos sair da fronteira “além lar”, ainda levamos em nossas costas, os afazeres domésticos e os cuidados com os filhos, é o que chamamos de: dupla jornada, problema romantizado pela sociedade. O mito da mulher “mil e uma utilidades”, “a mulher forte que sempre dá conta de tudo”, esconde a verdadeira opressão que sofremos dentro de casa.

Em seu livro “Feminismo em comum”, a brilhante Márcia Tiburi nos alerta: “desde que nascemos, estamos condenadas à um tipo de trabalho que se assemelha à servidão”, de fato, o trabalho doméstico é repetitivo, infinito, cansativo e não remunerado, são 10,4 horas a mais! se em uma sociedade capitalista tempo é dinheiro, porque o tempo que gastamos em serviços domésticos não são remunerados? E porque ainda há uma resistência, em grande parte dos homens, em não dividir os trabalhos de casa e o cuidado com os filhos? Ainda segundo os dados do IBGE, a realização de afazeres pelos homens só se equipara à das mulheres quando ele vive sozinho. Quando está em coabitação, seja na condição de responsável pelo domicílio ou de cônjuge, a realização de afazeres domésticos dos homens se reduz sensivelmente em certas atividades, exceto para a realização de pequenos reparos no domicílio. 

Em 2020 nos deparamos com a pandemia do novo Coronavírus e vimos o problema da dupla jornada, transformar-se em problema da tripla jornada. Restritas ao lar, tivemos que lidar com o aumento dos serviços domésticos, do trabalho “formal” e o cuidado com os filhos e/ou estudos. Sim, muitas mulheres além de mães e trabalhadoras, são estudantes e ainda estão na busca da realização pessoal pelo diploma de ensino superior. Tivemos que nos adaptar à um modo de vida virtual, igualmente cansativo, muitas mulheres que são mães e trabalhadoras, acabam desistindo dos estudos, pois não conseguem conciliar o trabalho com os cuidados de casa e/ou filhos. Cansadas fisicamente, e psicologicamente fragilizadas, colocam seus sonhos em segundo plano para seguir, mesmo que inconscientemente, a lógica do patriarcado que define quais são os papéis das mulheres, de modo que pareçam naturais e universais.

Para o patriarcado, é nosso DEVER cuidar dos filhos e manter o lar em ordem, mesmo que tenhamos atividades extras, como obter o sustento. Para o feminismo, é preciso subverter essa lógica de materialização da opressão. Precisamos parar de reproduzir comportamentos patriarcais! O cuidado não é uma obrigação das mulheres. A despatriarcalização desse tipo de pensamento é urgente! Continuaremos a questionar as estruturas sociais que nos oprimem, até que todas sejamos livres.

Texto: Luana




Dados: https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-sala-de-imprensa/2013-agencia-de-noticias/releases/27877-em-media-mulheres-dedicam-10-4-horas-por-semana-a-mais-que-os-homens-aos-afazeres-domesticos-ou-ao-cuidado-de-pessoas

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