MEDUSA

 A importunação sexual foi tipificada como crime no Brasil, a lei entrou em vigor em 2018 e diz em singelas palavras: “praticar ato libidinoso (de caráter sexual), na presença de alguém, sem sua autorização e com a intenção de satisfazer lascívia próprio ou de outra pessoa.” A lei também assegura que a pena prevista para esse tipo de crime é de 1 a 5 anos de reclusão.

Infelizmente, as situações de importunação sexual são muito comuns no cotidiano das mulheres, afinal, quem nunca foi ou conhece alguém que já sofreu esse tipo de violência? Seja com um “psiu”, convites do tipo: “entra aqui no meu carro rapidinho”, ou até mesmo perguntas sobre quanto custa o “programa” (como já aconteceu comigo no meu trajeto para o trabalho). Segundo uma pesquisa divulgada pela CBN, desde a criação da lei contra a importunação sexual, foram registrados mais de 78 mil casos, sem levar em consideração as mulheres que não denunciam prevendo a impunidade.

É evidente que os dados são alarmantes, mas são previsíveis e não assusta quanto a falta de medo dos assediadores e a certeza da impunidade. Recentemente, em um país tupiniquim, onde as raízes do patriarcado são bem estruturadas, viralizou um caso envolvendo uma mulher que sofreu importunação sexual ao deixar o elevador de um prédio comercial completamente monitorado por câmeras.

As imagens escancaravam o que é ser mulher em uma sociedade misógina.  Ao sair do elevador, a vítima tem as nádegas apalpadas de forma violenta. O sadismo do agressor cega-o para as câmeras e mostra o lado vil da face machista e criminosa atentando contra o corpo de uma mulher. Após o ocorrido, a vítima recebeu ajuda para identificar o agressor e, obviamente, manifestou-se nas redes sociais, abalada, humilhada, reproduzindo lágrimas e gritos acumulados de todas nós, a impotência vira protagonista e os questionamentos surgem... Como podemos prever um crime? Devemos ficar atenta aos pormenores de uma vida cotidiana? Ficar em locais fechados com homens virou um perigo iminente? Então esse é mais um passo para a vilanização dos homens?... Enquanto isso, os juízes da moral julgam a roupa da vítima! Viramos medusas! Somos culpabilizadas pela violência que sofremos! Pena não poder transformar o abusador em pedra!

Já o agressor Israel Leal Bandeira Neto, apagou suas redes sociais e segundo fontes jornalísticas, ele foi afastado do trabalho, graças a repercussão na internet, pois caso contrário, todos nós sabemos que ele estaria vivendo a vida normalmente, sem culpas, após ter roubado a dignidade de uma mulher. O caso ainda está sendo “investigado”, querem ouvir o agressor, apesar das imagens falarem por si só. Me permito imaginar qual desculpa ele vai inventar... os instintos masculinos atacam novamente? A roupa era chamativa? Pintou um clima e ela deu bola? Quantas desculpas vão nos enfiar goela abaixo para mascarar o machismo estrutural e a mentalidade patriarcal de uma sociedade que nos subjuga?

Eu tive a oportunidade de dedicar 3 anos da minha vida lendo mulheres, procurando encontrar opiniões que explicassem o porquê de tanta violência direcionada a nós. Confesso que foi uma forma ingênua, porém desesperadora para encontrar respostas, bebendo da fonte de mulheres sábias que me fizeram entender que apenas a educação pode transformar esse quadro horrendo. Educar gerações futuras para que as sociedades possam ser libertas do patriarcalismo, que coloca as mulheres como objeto de subalternidade. Não há lei que coloque medo em agressor que sabe das impunidades da justiça, mas nenhum patriarcado sobreviverá ao poder de uma educação justa e feminista. A importunação sexual é a materialização do patriarcado e uma das formas mais cruéis de violência contra a mulher.

Para as mulheres que são importunadas na rua, nos elevadores, nas escolas, nos ambientes de trabalho ou em qualquer espaço que ocupamos, desejo que a justiça faça o seu papel, para que o trauma vire exemplo do que não se deve repetir. Para o futuro, o sentimento ingênuo de que vamos vencer o patriarcado continua, até que a última mulher seja queimada em praça pública, onde qualquer câmera consiga alcançar.

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Fonte: CBN - A rádio que toca notícia - Brasil registra 78 mil casos de importunação sexual desde a criação da lei sobre crime (globo.com)

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