O GRITO
A voz... Fazendo uma pesquisa primária no googloráculo a voz “é uma das ferramentas primárias e mais imediata que o ser humano dispõe para interagir com a sociedade. Através da voz é possível transmitir ideais, sentimentos e intenções no ato comunicativo.” Continuando no arcaísmo de significados, segundo o dicionário, a voz é o som produzido na laringe, pelo ar que sai dos pulmões pela boca.
Assim fica claro e evidente
(até demais), que a voz é a exteriorização de um sentimento, é a forma verbal da
expressão humana. A voz pode assustar, controlar, informar ou até mesmo
oprimir...
.
Com esse pequeno excerto
introdutório, eu gostaria de narrar uma experiência que eu tive semana passada
no meu trabalho, a convivência em sociedade pode ser horrorosa, mas me permite
mapear e criticar as estruturas que oprimem as mulheres, e o atendimento ao
público é um prato cheio de situações...
Bom, era mais um dia de
trabalho fazendo as mesmas coisas, e apareceu um casal com dois filhos para
fazerem um pedido um tanto grande, atenta a gentileza do homem para com sua
esposa, ele cedeu a grande oportunidade para ela escolher o que queria, como
todo e bom homem e pai de família. A seguir, fez o pedido dos filhos, e por
fim, o pedido dele. Desatenta aos singelos dizeres do marido, porque estava
apartando a briga entre os dois irmãos inquietos à espera da guloseima, a
senhora delicadamente olha para o marido e diz: “amor, fala o que tu queres”, e
prontamente ele esboça um sonoro: “EU JÁ PEDI ESSA MERDA”, em tons grotescos, quase
um homem das cavernas quando esbraveja por um pedaço de carne!
Um grito, a humilhação e a
histeria uniram-se para inspirar esses singelos escritos. Eu confesso que
fiquei sem reação! Ver um homem gritar com uma mulher por uma situação tão
banal quanto fazer um pedido em um fast-food... o grito é uma forma de
humilhação que exacerba quando se tem uma testemunha, no caso eu!
Não consigo parar de lembrar das
pálpebras daquela senhora curvando-se lentamente, como se aquilo fosse a
aceitação do grito, da humilhação... ela foi vencida pelo grito, ela foi
vencida por aquela voz pronta para o bote!
A pensadora bell hooks diz que “na
sociedade patriarcal, homens são incentivados a canalizar agressões frustradas
contra as pessoas sem poder, no caso, mulheres e crianças”. Eu não sei a real
motivação para tamanha histeria em um grito, não conheço a intimidade do casal,
mas o que justifica o grito para aquele ser em uma situação tão banal? Por quê a
mulher consentiu essa pequena violência e manteve-se com os olhos voltados para
o chão, sem a coragem de me encarar? Ela queria evitar um conflito maior na
frente de uma desconhecida? Devemos nos contentar com as pequenas humilhações
para preservar a harmonia familiar? O que eu faria no lugar daquela mulher?
Será que eu reagiria pior ou me assustaria com o contexto da situação e não
faria nada? São muito questionamentos para uma situação complexa, mas uma coisa
é certa: o machismo é “um modo de ser” que privilegia os machos, e se apresenta
na microestrutura cotidiana, como disse Márcia Tiburi.
A masculinidade expressada no
grito, na marcação de territorialidade onde eu posso, ou não avançar, ou fazer
um simples questionamento sem levantar a ira do “macho-mor”, e há muitos por
aí... como erva daninha para destruir aos poucos as relações saudáveis.
Afinal de contas, quando um homem grita com uma mulher, o que ele está querendo provar?
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voz - Dicionário Online Priberam de Português
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