UMA HISTÓRIA DIFERENTE

 Quando comecei a ler sobre feminismos e todas as questões que envolvem o “papel” das mulheres na sociedade, o blog Feminismo Livre passou a ser um sonho guardado em um canto secreto da minha vida. Inspirada nas grandes mulheres que sofreram apagamento histórico, comecei a sentir a necessidade de exteriorizar meus pensamentos (adquiridos com muita leitura) e tentar agregar um pouco na vida de outras pessoas, afinal de contas, o feminismo é para todo mundo. Mas com a falta de tempo fui adiando esse sonho e comecei com o Instagram (@ffeminismolivre), uma ferramenta mais “volátil”, mas era uma forma de começar um trabalho complexo e que requer responsabilidade. O Blog Feminismo Livre nasceu em novembro de 2020, e com o tempo disponível que tive na pandemia comecei a me dedicar nas postagens para o blog, e tento nesse pequeno espaço que a web me proporciona, falar um pouco sobre aquilo que acredito e na possibilidade de um mundo melhor para todos, ou seja, uma jovem que luta contra o patriarcado nas horas vagas. 😁😁

O blog atualmente tem 22 postagens, dentre elas falo sobre mulheres que fizeram diferença na história da humanidade e também sobre questões feministas (violência sexual, machismo, aborto...), mas hoje eu queria fazer algo diferente, então resolvi falar sobre mim... obviamente não fiz nada que mudasse os rumos da história e nem acabei com a violência sexista que nos oprime, porém, ainda não tinha me apresentado e cheguei à conclusão de que foi uma falta de educação da minha parte... quem começa a conversar com alguém desconhecido sem se apresentar? 😅😅😅 

- Agora como dizem os Portugueses: “Vamos a isto?"

Bom, a mortal que vos fala se chama Luana, alguns me chamam de Lua por viver em mundo paralelo mesmo estando em corpo presente. Sou Brasileira, imigrante, tenho 28 anos e sonho com a liberdade. Atualmente vivo em Portugal, estudo enfermagem e tento viver um dia de cada vez. A minha trajetória não é longa, quem pode falar muito com apenas 28 anos de idade? Mas carrego comigo cicatrizes de dores profundas que as vezes me faz parecer ter 60 anos. Decidi mudar de país em busca da tal “liberdade”, mas como disse a brilhante Nina Simone: “liberdade é não ter medo”, e eu ainda o sinto... Com o contexto pandêmico e os rumos do Brasil, uma jovem tupiniquim aterrissou no dia 25 de setembro de 2021 na capital Lusa. Taí uma coisa que jamais sonhei... acho que a vida é assim, ela vai acontecendo aos poucos com os empurrões que nós temos que dar, eu decidi dar o meu, eu decidi aceitar e aguentar os desafios de uma nova jornada... a tal liberdade tinha que ter seu preço.

O signo mulher nos dá o desafio de viver em um mundo machista e sexista, e é impensável para muitos que uma menina possa ganhar o mundo e crescer em diversos âmbitos, principalmente o financeiro. O patriarcado tem uma única alternativa, mas podemos ir contra a corrente e abrir caminhos já pensados por aquelas que vieram antes de nós, e aqui estou eu, desbravando os mistérios de viver uma vida em um país desenvolvido, usufruindo de alguns privilégios e sofrendo por viver longe das pessoas que amo, para além do preconceito e do estigma “da mulher brasileira que vem para se prostituir, ou roubar o marido de alguém”, sim, há quem pense asneiras como no século passado!

Preciso dedicar esse parágrafo para falar do maior privilégio que posso usufruir aqui: andar na rua sozinha. Sim, andar na rua sozinha com segurança é um privilégio que nós ainda lutamos para ter... Viver em países marcados pela marginalização social e a violência contra a mulher não é nada fácil! - Nunca andar sozinha depois de certos horários, ser assediada e importunada a cada passo dado, a humilhação cotidiana do “psiu” como se fôssemos alguma espécie de bicho desgarrado no meio da rua, são situações que acontecem quando ousamos sair de casa. Não estou dizendo que isso não aconteça nos países desenvolvidos, mas a incidência é menor, acreditem! Lembro-me de um dia que sai de casa para ir à escola, era de manhã cedo e a poucos metros da parada de ônibus, ouvi passos atrás de mim... o frio na barriga e o coração acelerado evidenciavam o perigo... dois homens atrás de mim assobiando e rindo, com o intuito de provocar pânico em uma menina que andava sozinha na rua. Como disse a brilhante Carla Akotirene: eles nos violam, e ainda riem de nós! Na minha cabeça eu só pensava: “para quem vou pedir socorro?” Esse é um acontecimento de vários que posso contar sobre o que sofremos nas ruas, creio que todo mundo conhece alguma mulher que já passou e passa por isso cotidianamente. Ah, como é bom andar na rua... espero que um dia todas nós alcancemos esse privilégio, porque enquanto todas nós não formos livres, eu também não serei, e a liberdade será apenas um devaneio.

As mulheres imigrantes também enfrentam seus desafios. O machismo e o sexismo são universais! São pragas alastradas pelo mundo.

Carregar estigmas, enfrentar a xenofobia e a ignorância mental de alguns, faz com que a nossa jornada seja mais dolorida. As mulheres ainda lutam por postos de empregos com melhor remuneração, as mulheres ainda lutam por um amor real, e que as experiências vividas a dois não sejam apenas uma fetichização, as mulheres lutam pela independência financeira, as mulheres lutam por uma educação melhor para seus filhos... nós lutamos...

O mundo é grande, nós merecemos usufruir uma parte dele, nós ajudamos a construir, nós originamos a humanidade, e não é justo a liberdade nos ser negada. Eu não admito.

Obrigada por terem chegado até aqui, essa sou eu, e não quero ser uma coisa só. Sou grata pelo Feminismo Livre e pela alegria que ele me proporciona!

Não desistam de mim, e leiam meus textos... 😁😅😆

Obrigada.

Com carinho, Luana.

“Liberdade é não ter medo”- Nina Simone 

                                           Uma tupiniquim aterrissou em Lisboa. (25/09/2021)

      



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